Wednesday, November 05, 2008

Why Can't We?

Barack Obama foi eleito o 44º Presidente dos Estados Unidos. Talvez o cargo mais importante do mundo. Acompanhei a apuração das eleições madrugada adentro. Não por vontade própria, confesso, tive que virar a noite trabalhando então deixeia tv ligada. Já que estava acordada resolvi acompanhar a eleição mais disputada da história eleitoral daquele país. Na verdade acompanhei desde as primárias essa disputa que rendeu várias capas nos jornais diários aqui em Portugal e no Brasil.

Não tô querendo dizer que pra mim é indeferente. Longe disso. Eu acredito nele e tô até feliz. Sabe felicidade de tia encalhada quando casa a ultima sobrinha? Felicidade com uma pontinha de inveja? Pois é.

Só que toda essa novela, culminando num belo discurso do Obama que repetiu incontáveis vezes "yes we can" para uma série de importantes desafios para a política americana, representa pra mim um grande questionamento: Porque é que o mundo parece precisar tanto de um salvador?

Não cabem aqui tentativas de comentários aprofundados. Não tenho muito a acrescentar para além daquilo que já está a ser dito por comentaristas muito mais aptos do que eu, mas acho que tenho direito aos meus questionamentos. Eu, que faço parte de uma geração com tão curta memória política; que vivi 20 anos num país em que a corrupção parece ter virado marca nacional e em que a juventude parece estar adormecida; que vivo há dois anos num país que se debate pra conseguir manter a qualidade de vida da sua classe média - cada vez mais sufocada - e para manter-se à margem da crise. Eu tenho direito a me perguntar: porque é que todos falamos e vivemos as presidenciais americanas como deveríamos viver as nossas?

A importância política e econômica dos Estados Unidos são inquestionáveis. Não foram essas as dúvidas que me surgiram hoje quando Obama afirmou no discurso de vitória: “para aqueles que questionaram o poder da nossa democracia, o resultado de hoje foi a resposta”. Até tenho muitas expectativas. Tenho esperança de que os Estados Unidos contornem as recentes tentativas de transformar a democracia numa ideologia. Que a encare como um sistema que pode dar certo se for a melhor forma de organizar um povo que a adopte, e não como uma crença que precisa ser profetizada. A democracia é uma forma de governo que serve pra evitar conflitos e não os criar. Espero que dessa forma reconfigurem-se as suas relações internacionais e que elas passem também a ter em conta os interesses de outros países, e que assim retome-se o verdadeiro significado da palavra “negociação”. Mas hoje foi pra mim uma noite de mais perguntas que esperanças. Porque é que precisamos tanto desse salvador?


Acho que a questão gira em torno da dificuldade que as sociedades de países periféricos, em crescimento, têm em criar a sua própria identidade política e em envolver-se em questões importantes para o desenvolvimento da sua própria sociedade. Não me questiono aqui porque é que a democracia brasileira e a portuguesa não são iguais à americana. E nem almejo isso. Obviamente tenho em conta que foram construídas sobre diferentes bases.


É muito engraçado, e até imprescindível, fazer piada da própria desgraça. É muito mais fácil falar sobre coisas absurdas e fazer de conta que dá pra continuar vivendo num país de merda e que a gente não tem nada a ver com isso. Mas não consigo deixar de me fazer essa pergunta: o que estamos esperando, nós, privilegiados, com a cesso à educação de qualidade, informação e indiscutível qualidade de vida, para fazer alguma coisa? Qualquer coisa que mostre que temos alguma vontade e que nós também podemos. Alguma coisa que mostre que também sabemos viver numa democracia. Alguma coisa que mostre que também queremos mudar e escolher novos caminhos.

Sei que revoltas particulares e “protestos” como este não fazem qualquer efeito. Mas, na verdade, isso não é um protesto. É um sincero questionamento.
O que é que me impede de passar do papel para a acção? E rejeitar esse rótulo de apatia que querem pregar na minha geração, assim como fizeram os jovens americanos ontem? O que é que me diferencia deles?


Foto da Reuters

3 comments:

Anonymous said...

É prima, por mais que não queira admitir, somos uma geração de acomodados, que se indignam e nada fazem, que hoje se revolta por algum acontecimento e daqui a algumas semanas, meses, esquece da tal revolta...por muitos “porques”: porque a mídia parou de falar, por ter suas obrigações, sua vida, e por acomodação!

Uma geração que esquece do coletivo por estar ocupado demais com o individual.

Quando você falou do Obama, me lembrei da 1ª posse do Lula, lotadoooo, de brasileiros e brasileiras emocionados, chorando com bandeiras por todos os lados. Dava pra “ver” a esperança na cara das pessoas, que as coisas iam mudar e melhorar no país, pois todas aquelas pessoas viam na pessoa do Lula, o tal salvador!
Mas ai eu pergunto, será que esperamos demais ou será que ele não fez o suficiente?

enfim... eu sou brasileira e não desisto nunca! :)

ah, parabéns pelo bog! e vou em busca de leitores p ele que é só o q falta!
bjus!

Anonymous said...

Amiga conseguiste por-me a pensar nisso. Estamos demasiado permeáveis aos sucessos alheios por escasseiam os nossos enquanto "so-called" país democrático. Depositamos esperança num país tão longínquo porque, simplesmente, aqui não há oposição que lhe mereça o nome (o nome elogioso, de resto), não há luta séria, não há troca acesa de ideias, não há contra-argumentação, não há a vontade de diluir ideais trôpegos e antiquados. Quantos aos novos ideais, que venham substituir esses, também não estamos a nadar neles. As eleições americanas tiveram a atenção mediática que se sabe porque no fundo invejamos o quão dedicados eles são a estas questões políticas, mesmo tendo certos luxos assegurados (até quando?) próprios de um país primeiro-mundista. Não nos excluo da geração café e cigarrinho, reconheço que o somos porque ainda chegamos a uma casa com aquecimento, ainda estudamos, ainda saimos, ainda vamos tendo as nossas regalias. O que me choca (e contra mim falo), é ter a plena noção do quão frágil é o nosso conforto e dos milhões de pessoas que não o têm, e não fazer nada de realmente útil. Aware and careless, é triste mas é verdade.

Unknown said...

hora de atualizar isso aqui, nao?