Monday, March 08, 2010

Essas pessoas

Eu não quis ser jornalista a vida inteira. O jornalismo não era o que eu imaginava pra mim quando eu era criança. Eu quis ser enfermeira, eu quis ser atriz – obviamente – eu quis ser baterista, eu quis ser bailarina, eu quis ser historiadora. Eu quis muita coisa antes de querer ser jornalista. Na verdade eu só fui querer ser jornalista depois de já estar na faculdade e ter começado a trabalhar. Ai eu descobri o porquê de querer ser jornalista.
Eu gosto de escrever, e a minha escrita tem o mínimo de qualidade que a escrita de um jornalista precisa ter, ainda que não seja um gênio da narrativa. Eu me expresso bem, não sou muito tímida – aham NOVA –, tenho alguma criatividade e definitivamente (só)gosto de trabalhar sob pressão. Eu me considero uma boa jornalista, mas esses não são OS motivos que fazem gostar de jornalismo.
Na faculdade peguei gosto, até demais, pela teoria, pela pesquisa, e nos últimos anos eu deixei a pratica um pouco de lado. Mudei pra Coimbra, terminei a faculdade, engatei no mestrado. Quando deixei de ter aulas durante o dia passei um bom tempo procurando emprego na área. Não consegui, acoisatapegando. No entanto, a mais ou menos uns 4 meses arranjei um estágio no Diário de Aveiro pra manter alguma rotina. Jornal pequeno pra o que eu tava acostumada em Belém. Redação pequena, cidade pequena, trabalhos menores.
Nos últimos meses o tempo que eu precisava dedicar pro mestrado aumentou, me perguntei varias vezes se valia a pena preterir a produção da tese por um estágio que não me pagava nada e, depois de mais ou menos uns dois meses, já não me apresentava nada de novo. Decidi sair. Muito trabalho no mestrado era o peso maior na balança. Há uma semana tive meu ultimo dia de trabalho, oficialmente, digamos. E como que, por ironia, eu (re)descobri o motivo de gostar do jornalismo.
Meu ultimo trabalho foi cobrir uma sessão de esclarecimento sobre riscos na internet, pra cerca de 40 alunos duma escola secundaria de Aveiro. Trabalho rápido. 700 toques. Era ir lá mais pra fazer a foto e pegar umas aspas. E aí que eu pedi pra professora Mariazinha: “me arranja três alunos pra eu entrevistar? Coisa rápida, só umas linhas. Aí a senhora traz eles da platéia um por um pra não atrapalhar, pq eu tenho outra coisa pra fazer e não posso demorar. Ok?”. A professora mariazinha olhou pra mim e disse: “ok, eu vou chamar o Tiago, que é muito bom, tb vou chamar o zé e a Tânia. Na verdade, a senhora sabe, todos eles são muito bons. Mas também eu sou suspeita né... Sabe, eles são os meus meninos e são meus a há tantos anos que eu sou muito suspeita pra escolher o melhor deles, mas eu vou tentar. Vamos ver...” e saiu andado em direção à plateia.
A mulher me disse aquilo com uma felicidade e uma alegria tão grandes como se eu tivesse pedido à Meryl Streep pra escolher o melhor Oscar na prateleira, ou ao Capote o melhor livro, ou ao Fellini o melhor filme. E isso me tocou mais do que muitas pessoas que eu entrevistei. Tive vontade de mudar todo o foco, esquecer a merda da sessão e falar sobre o amor daquela professora por aqueles “miúdos” e foi assim que eu lembrei porque eu gosto tanto do jornalismo. Por causa das pessoas. Por que as pessoas são sempre imprevisíveis e surpreendentes e as menores coisas são sempre, sempre interessantes. Não interessa o lugar, o tamanho da redação, a “importância” do trabalho. São as pessoas. As pessoas é que me interessam. As pessoas que são do caralho. O resto é acessório.
E eu lembrei disso hoje. Pra lembrar que eu tenho pra onde voltar quando essa etapa a acabar.

Saturday, January 23, 2010

Eu sempre volto no começo do ano.

Bem, a viagem a Belém, ao Rio de Janeiro e ao Chile rendeu muitas resoluções de ano novo, descobertas e algumas novas paixões.
A ida a Belém rendeu muita tristeza na volta. Pela primeira vez eu realmente não quis deixar a mangueirosa para trás. Razão? Sabe Deus. Para além, claro, do óbvio amigos-família-comidas que eu sempre sinto falta e que sempre me custa muito deixar, a cidade não parece estar especialmente bem cuidada (seria redundante aqui qualquer crítica ao amigo Dudu ou à (des)governadora, sem falar que já virou cliché…), ou com algum atrativo gritante à razão de qualquer pessoa. Muito pelo contrário… o trânsito, o calor, a sujeira e a sacanagem continuam, e no entanto, it cought my heart this time. I’m home sick.

Já a ida ligeira ao Rio de Janeiro, só pra dar uma olhada nos fogos, comer uma picanha e pegar um bronze (NOT) rendeu muitas boas lembranças de que aquela cidade continua sendo sempre maravilhosa e que o carioooaaca continua teendo o sutaqui mais bunitu do brasiu. If you know what I mean. Fora isso – muita cebola no Outback é que é meu forte mesmo – e a praia tava boa, apesar de sempre lotada e, dessa vez, excessivamente (des)ordenada

A ida ao Chile foi que rendeu muitas novas paixões. Pelo javali, pela América Latina e pelo Pablo Neruda. Não tanto pela poesia que eu nem sou muito de poesia, mas por ele mesmo que tinha a casa mais divertida de todas e que colecionava mais coisas do que eu, o que fez com que eu não me sentisse tão anormal assim. Na verdade a ida ao Chile rendeu muito mais do que isso, porém, detalhes ficam para outro dia, porque eu já cheguei em casa há mais de uma semana e só hoje é que consegui, de facto, desfazer as malas e o coração.