Monday, October 13, 2008

Concorrência

Anteontem teve jogo da selecção de Portugal contra a Suécia. Altas emoções,vamosàcopanãovamosàcopa e coisa e tal.


Telões em espaços públicos, cafés lotados, silêncio brutal durante 90 minutos (silêncio mesmo. já que, pelo visto, nem sombra de gol). E eu lá, cortando o cabelo, e fazendo a unha, e indo no supermercado e num maravilhoso cartório sem filas. Nem uma tv, nem um radinho, nada. Só o silêncio na rua dava indícios de uma muito distante vitória.
Não, eu não assisto jogos da selecção, nem de nenhum outro time. Eu basicamente não assisto jogos de futebol. E é engraçado porque durante 2 curtíssimos anos da minha estendida adolescência eu fui ao saudoso "Mangueirão" assistir os jogos do Paysandu na sua mais gloriosa fase, e "no campo" era tudo beeem mais divertido. E mesmo assim, se eu me lembro do resultado de dois jogos é muito. E lembro, vagamente, também de ter assistido um ou outro jogo da seleção do Brasil, mas só lembro da copa de 94 e da de 98. Uma vez até perguntei pro namorado se o Brasil já tinha passado do penta...


Não qu eu seja uma grandissíssima estúpida com relação à paixão nacional (ao que parece, tanto Brasileira quanto Portuguesa). Eu até sei o nome de um ou outro jogador, dos treinadores e até consigo entender algumas regras. Na minha família, como qualquer uma que se preze, sempre tive exemplos de fanatismo absurdo por grupos de 11 pernudos homens correndo atrás da bola. Depois de muito reflectir sobre o meu desprezo inexplicavel para com o futebol cheguei à seguinte conclusão: a culpa é da concorrência. O futebol tem sempre grandes concorrentes.

Eu explico. Quando eu era criança toda vez que tinha jogo do Brasil não tinha aula, ballet, natação, ou a mamãe e o papai chegavam cedo em casa. Quando eu cresci e comecei a trabalhar toda vez que tinha jogo do Brasil fazíamos turnos de trabalho pra maior parte do pessoal poder ir assistir o jogo. Ou seja, a minha atenção, que deveria ser focada no ato de torcer ou prestar minimamente atenção no jogo, é sempre desviada para o fato de eu poder dormir até mais tarde, ou ter a família toda reunida em casa, ou pôr o papo em dia com os amigos.

Sem falar que a mamãe sempre comprava roupa nova "da copa" e no dia do jogo sempre tinha pipoca e tira-gostos e muita coca-cola. Quando eu ia pro campo com meu tio ver o Paysandu, nunca sabia ao certo qual era a arquibancada A ou B, nem pra que lado ficava a Terror Bicolor, mas nunca me perdia à procura da tia do churrasquinho de gato e sua farofa chôcha com um vinagrete salpicado de suor. Quando eu cresci, ao tira gosto foi acrescentada a cerveja (nem é preciso mais detalhes).

Aqui em Portugal toda vez que tem jogo da selecção as filas do supermercado ficam bem menores, nunca tem ninguém no cabeleireiro e quando portugal ganha as pessoas ficam muito mais bem humoradas.

Resumindo: na minha vida o futebol sempre competiu com sono a mais, comida, cerveja e bom humor. É bem compreensível que ele, na maior parte das vezes, perca a briga.

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