Thursday, October 23, 2008

Rui Belo e SMS's

o penúltimo post do update or die me fez pensar sobre umas coisas esquisitas...

Eu tenho um vício terrível que é comprar o jornal todos os dias e nunca ler até o fim. Pra já eu acho que os cadernos de jornal deviam ser vendidos separados. Do gênero: "oh a menina vai levar só o Nacional? Olhe leve também o caderno Mundo que hoje o Putin anunciou que vai virar budista!". Enfim, era muito mais prático. Na verdade o problema é que eu não consigo pular notícias, nem que seja uma sobre mais um acordo de paz na faixa de Gaza. E outro problema é que eu não jogo fora nada que eu não tenha lido. O que resulta num gigante amontoado de pedaços velhos de jornal em casa, do qual grande parte geralmente é composta pelo P2 (o 2º caderno do Público, que é só o que eu mais gosto, mas como ele fica encadernado da metade pro fim, bem, eu raramente chego nele a tempo) e que fica na revisteira do banheiro.

O que eu ia falar de importante na verdade é que hoje eu li o P2 do dia 8 de agosto, e me deparei com uma excelente matéria sobre o Rui Belo, poeta português que morreu há 30 anos e pelos vistos ninguém por aqui deu muita bola pra ele durante um bom tempo. Além do aniversário de morte e do lançamento da antologia dele num volume único, o gancho da matéria era a revelação de trechos de dez cartas inéditas. O que me chamou bastante atenção porque a martéria já era enorme, e ainda por cima cartas inéditas que geram livros não são publicadas, mas o Publico nos fez esse favor.

Eis que lá pelo meio do texto o jornalista enumera mais de 30 destinatários das cartas do senhor esquecido, inclusive algumas pra editoras. E aí que entre os trechos apresentados vinha um assim:

"A intensidade com que, desde pequeno, tenho vivido cada minuto da minha vida, o alheamento - pelo menos aparente - com que observo o dia-a-dia têm-me tornado isto que sou: um falhado, um falso ídolo, que no íntimo sabe - e só ele sabe - em que medida são de barro os seus pés." (para "a minha senhora e minha amiga", incompleta).

E aí eu me pergunto, quantas cartas eu escrevi na minha vida? Eu não sou poeta e nunca tive a pretensao de ser, mas só uma pessoa, com muita falta de sensibilidade pode achar que não pode haver poesia numa carta. E sabe por quê? Porque eu só escrevo emails. Assim como, provavelmente, todos os escritores a minha geração.
O que os jornalistas vão lançar no aniversario de morte dos escritores contemporâneos? Posts em Blogs? Emails? Sms's?

Imaginem uma sms do supracitado:

Ctgo aprendi koisas tão simpls cm a forma d convívio c meu kblo ralo
e a divrsa cor q há nos olhos das pssoas
Só tu m acompanhasts súbitos momnts
qd td ruía ao meu redor
e m sentia só e no kbo do mundo
Ctgo fui cruel no dia a dia
+ q mulhr tu és já a minha únik viúva
n posso dar t + do t dou
este molhado olhar d homem q morre
e c comov ao vr t asim prsnt tão subitamnt

Não ficava muito bem. Eu acho.

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